Profissional ajudando um paciente com dor crônica a fazer exercícios

Exercício físico para dor crônica funciona?

Segundo a Associação Internacional para o Estudo de Dor a definição da dor seria “uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a uma lesão tecidual real ou potencial, ou descrita em termos de tal lesão.

A definição de dor crônica é aquela que persiste por mais de 3 meses e pode ser sentida nas articulações e no corpo como um todo.

Apresenta diversas causas (osteoartrite, artropatias inflamatórias, fibromialgia, discopatias entre outras).

Em alguns casos não é possível identificar a causa da dor crônica e não há tratamento que possa reverter a patologia primária, ou seja, não conseguimos por exemplo curar uma ferida e finalizar a dor.

O tratamento biopsicossocial que reconhece e visa abordar os fatores físicos, psicológicos e sociais subjacentes à dor é atualmente aceito como a abordagem mais eficaz.

Evidências para o exercício físico na dor crônica

É amplamente aceito que o aumento dos níveis de atividade física é benéfico.

Revisões sistemáticas demonstraram que exercícios aeróbicos e de resistência foram mais eficazes do que nenhuma intervenção para melhorar a função física e a dor na fibromialgia (2-3), osteoartrite do joelho (4) e dor lombar (5) .

Sobre as modalidades, os estudos usaram modalidades incluindo pesos, exercícios de solo, caminhada, ciclismo e exercícios aquáticos, pilates, ioga e Tai Chi.

Acredita-se que o exercício exerce seus efeitos sobre a dor e a incapacidade por meio de melhorias na função ou desempenho físico (por exemplo, amplitude de movimento, força, resistência muscular), porém sem muitas evidências que consigam comprovar isso.

Sendo assim outras mudanças induzidas pelo exercício como: melhora de patologias secundárias, melhora do estado psicológico e da cognição (por exemplo, redução do medo, ansiedade e catastrofização), analgesia induzida pelo exercício e adaptações funcionais e estruturais no cérebro pode influenciar a dor crônica e a incapacidade mais do que a função física.

Avaliação Inicial

Na avaliação inicial temos a oportunidade para estabelecer as bases para uma aliança terapêutica positiva entre o médico e o paciente, que se refere a um senso de colaboração, compreensão e apoio, sendo esses fatores determinantes nos resultados da reabilitação.

Compreender os pensamentos, crenças e comportamentos do paciente em relação à atividade física e à dor auxilia os médicos na prescrição de exercícios combinados adaptados ao paciente.

Para um paciente sedentário, que evita o exercício, é mais eficiente a prescrição de uma atividade supervisionada por um profissional.

Explicar a dor ao paciente

Refere-se a uma série de técnicas educacionais que visam mudar a forma como o paciente dá sentido à sua dor.

A explicação da dor deve começar imediatamente, permanecer contínua e ser revisada ao longo da reabilitação.

Associar o exercício e movimento com dor e lesão pode aumentar a ansiedade e aumentar a dor. Todo exercício e atividade devem ser percebidos como seguros pelo paciente.

É fundamental que os pacientes entendam e acreditem que é seguro se exercitar com a presença do desconforto, pois essa sensação se estabiliza e não continua a aumentando significativamente. Sendo assim eles podem lidar e sentir que é administrável, além do fato da dor diminui gradualmente após o término do exercício.

Os exercícios podem ser realizados conforme a tolerância do paciente e interrompidos temporariamente/modificados com a intolerância.

Expectativa do tratamento

As expectativas pré-tratamento do paciente influenciam significativamente os resultados do tratamento.

Por exemplo, se a expectativa de tratamento primário de um paciente é a abolição da dor crônica, a falha em conseguir isso pode aumentar a frustração e a ansiedade e contribuir para a piora dos sintomas.

Isso pode ser evitado estimulando as expectativas do tratamento em torno da melhoria da função, da qualidade de vida e da redução do impacto da dor na vida do paciente. Isso não quer dizer que o paciente não deva esperar alívio da dor com o exercício.

O paciente deve ser lembrado de que as adaptações biológicas que ocorrem à medida que a dor persiste são difíceis de reverter e levarão tempo, eles devem embarcar em uma jornada de recuperação e domínio de sua situação, não uma solução rápida.

Linha de base da atividade física

Encontrar a quantidade e intensidade adequadas de atividade física, promove a confiança e a garantia de que é seguro praticar atividade e fornece a base para sobrecarga progressiva ou estimulação durante todo o tratamento.

Os médicos devem se esforçar para evitar acelerar (aumentar a atividade física/exercício) muito rapidamente e exacerbar os sintomas do paciente.

Tipos de exercícios

O exercício aeróbico realizado entre 20 e 60 min mais de 2 dias/semana por 6 semanas ou mais pode ser suficiente para impactar positivamente nos sintomas e na função.

Realizado em uma intensidade para melhorar a aptidão cardiovascular, o treinamento aeróbico também pode aumentar a tolerância à dor

O exercício de resistência tem sido amplamente investigado e é comumente prescrito. Para alguns pacientes, isso pode ser uma sensação desconhecida e preocupante com o potencial de gerar dor. A probabilidade disso ocorrer pode ser reduzida por meio da prescrição de exercícios adaptados

Embora o exercício aquático de resistência também possa melhorar a dor crônica, a função muscular pode ser mais responsiva ao exercício terrestre.

Os pacientes devem ser encorajados a manter registros diários/semanais de suas atividades físicas/exercícios. O automonitoramento contínuo pode ser útil para identificar barreiras e facilitadores para a participação no exercício, motivar o comportamento positivo do exercício e aumentar a participação

Conclusão

O exercício pode melhorar os sintomas, diminuir a incapacidade e melhorar a função de pacientes com dor crônica.

O peso da evidência é para modalidades de exercícios aeróbicos e de resistência.

Há consenso para exercícios individualizados e supervisionados com base na apresentação do paciente, objetivos e preferências, e exercícios que os pacientes percebem como seguros e não ameaçadores.

É fundamental o envolvimento do paciente e do médico no tratamento.

Referências

  1. Booth J, Moseley GL, Schiltenwolf M, Cashin A, Davies M, Hübscher M. Exercise for chronic musculoskeletal pain: A biopsychosocial approach. Musculoskeletal Care. 2017 Dec;15(4):413-421.
  2. Busch, A. J., Barber, K. A., Overend, T. J., Peloso, P. M., & Schachter, C. L.(2007). Exercise for treating fibromyalgia syndrome. Cochrane Database of Systematic Reviews4, .CD003786
  3. Busch, A. J., Webber, S. C., Brachaniec, M., Bidonde, J., Bello-Haas, V. D., Danyliw, A. D.Schachter, C. L.(2011). Exercise therapy for fibromyalgia. Current Pain and Headache Reports15(5), 358– 367.
  4. Fransen, M., McConnell, S., Harmer, A. R., Van der Esch, M., Simic, M., & Bennell, K. L.(2015). Exercise for osteoarthritis of the knee. Cochrane Database of Systematic Reviews.
  5. van Middelkoop, M., Rubinstein, S. M., Kuijpers, T., Verhagen, A. P., Ostelo, R., Koes, B. W., … van Tulder, M. W.(2011). A systematic review on the effectiveness of physical and rehabilitation interventions for chronic non-specific low back pain. European Spine Journal20(1), 19– 39

Revisão Médica

Dr. Diego Nunes | Reumatologista 

CRM 192102 – SP

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